quarta-feira, 27 de março de 2024

A TEVÊ COLOCOU A MÚSICA NO “MUDO”

questões artísticas (Material indicado a apresentadores de programas musicais)

A história só depõe contra a extinção de programas com atrações musicais relevantes nas emissoras: de Roberto Carlos a Rita Lee, muitos surgiram na televisão
 
Revista Piauí | Julio Maria | 27 mar 2024_09h03
 
Foto: João Bosco com o apresentador Rolando Boldrin no Som Brasil: anos atrás, passava boi, passava boiada, e um monte de música caipira na tevê aberta (Madalena Schwartz/Memória Globo)

Algo no silêncio entre uma palavra e outra que Kalil Filho dizia olhando para as câmeras da TV Excelsior naquele 30 de março de 1965 dava pistas de que ele sabia estar pisando no coração da história. “E aqui está a apresentação da última melodia desta noite. Arrastão. Elis Regina.” Ninguém, além dos inferninhos do Beco das Garrafas, no Rio, conhecia Elis quando as tevês mostraram ao país a cantora de corpo inteiro diante da orquestra da emissora. Arrastão caminhava por risos e dramas até chegar ao apogeu eruptivo que a fazia girar os braços e transbordar a voz. O que era dito até então em rodas intelectuais da Zona Sul do Rio se tornava planetário. Elis, mostrava a tevê, era real.

Até então, Ed Sullivan, na parte Norte do hemisfério, já havia materializado muita gente desde a estreia de seu programa The Ed Sullivan Show, na CBS, em 1948. Enquanto a Excelsior mostrava quem era Elis, ele levava a seu palco cinco irmãos negros da cidade de Gary, Indiana. Ed era um torpedo. No primeiro dia em que teve os Beatles como atração, fazendo-os decolar em solo norte-americano, seu programa foi visto por 73 milhões de pessoas. Uma fake news bem humorada pregou que o feito chegou a reduzir até os índices de criminalidade nas ruas dos Estados Unidos. “Os ladrões também estavam assistindo a gente”, afirmou mais tarde, com graça, o beatle George Harrison. Mas, naquele dia, ao olhar para Michael Jackson com 6 anos de idade, Sullivan ficou desnorteado. Assim que o número acabou, os chamou para cumprimentá-los e avisou: “Olhem bem para ele”, disse, apontando para o garoto menor, Michael, que usava um chapéu cor de rosa: “Esse menino vai longe.”

Música e televisão, quando unidas, elevaram à décima potência a euforia do áudio iniciada pela Era do Rádio no instante em que deu a ele uma imagem. Antes de se divorciarem, um fenômeno que tem sido observado nos últimos anos, com a extinção dos programas musicais relevantes das grades de tevê e cada vez menos espaços para música nos que já existem, as partes envolvidas ganharam altos valores palpáveis e outros tantos imateriais investindo em um jogo de mão dupla. O artista entrava com o prestígio e a emissora, com o espaço. Assim, o canal ganhava audiência e o artista triplicava o cachê. Nos casos das produções mais discretas, os músicos novatos garantiam visibilidade e relevância. Nos mais ambiciosos, surgiam alguns dos primeiros popstars pós era de Luiz Gonzaga. Secos & Molhados, Elis Regina, Wilson Simonal, Jorge Ben, Ronnie Von, Roberto Carlos e toda a Jovem Guarda, Rita Lee e toda a Tropicália, os festivais e toda a MPB, Belchior e todo o pessoal do Ceará. Tudo foi revelado em alguma emissora de tevê.

O rompimento das tevês com a música tem deixado um inexplicável vácuo e, mesmo em tempos nebulosos de streaming, a sensação é de que alguém, além dos artistas, está perdendo muito com isso. A Globo encerrou o reality de auditório The Voice, em dezembro de 2023, depois de dobrar seu faturamento em 2019 e embolsar 115 milhões de reais. Encerrou, disse, porque tinha coisa melhor por vir. Do outro lado, o enfraquecimento de ilhas musicais menos monetizadas, portanto, mais democráticas, como o programa Ensaio (que nunca foi o mesmo desde a morte de seu idealizador, Fernando Faro, em 2016, limitando-se a reprises) e o Viola, Minha Viola (que, sem sua idealizadora, Inezita Barroso, morta em 2015, exibe reprises desde 2019), ambos da TV Cultura, foi um duro golpe nos valiosos espaços de artistas menos visíveis. Raro espaço longevo, o Altas Horas, de Serginho Groisman, na Globo, ainda consegue dar relevância à música que se faz ao vivo.

O que está prometido pela Globo para assumir o lugar do The Voice é outra coisa: um reality show nos moldes do BBB dirigido por Boninho. Seu nome será Estrela da Casa e a proposta é a de mostrar cantores e cantoras “de todos os gêneros musicais” (como anuncia a emissora, o que já seria tecnicamente impossível). Eles irão construir suas carreiras sob muita tensão e discórdia (o alimento da audiência de Boninho que jamais deveria ser o de um compositor) em um confinamento transmitido 24 horas por dia. Não precisa estrear para sabermos que não será a música a protagonista do negócio.

Silvio Santos, por sua vez, tenta reeditar, desde o dia 3 de março, uma de suas maiores criações ao lado do Domingo no Parque: o Show de Calouros, colocado pela primeira vez no ar em 1977. Sua filha, Patrícia Abravanel, a nova apresentadora, recebeu como calouros na estreia a drag queen Gysella Popovic, um grupo cover da banda One Direction e alguns dançarinos de K-Pop. Ou seja: muito mais entretenimento do que música, como sempre foram todos os covers do Show de Calouros surgidos sobretudo nos anos 1980. Com respeito aos saudosistas, a música e os músicos nunca foram bem tratados nos ambientes de palco circenses criados por boa parte dos apresentadores do programa de auditório. Em alguns deles, a produção cobrava ‘jabás’ para músicos terem um espaço que deveriam merecer por talento. Em outros, colocava o baterista para tocar de pé em uma caixa e um prato decorativos enquanto o cantor dublava a própria voz. Disso, a música jamais pode sentir falta.

Para além do circo dos reality shows que as emissoras conseguem ver quando pensam em programas musicais de abrangência pop existe um ativo de afeto incalculável que só os músicos e os grandes atores são capazes de produzir para as audiências televisivas. É a emoção em estado bruto. Se vivemos a maior profusão desses talentos musicais, não identificáveis por falta de curadoria, não por ausência de material humano, a tevê está perdendo o trem que a levaria à ponta de um novo negócio. Abrir espaços generosos para talentos trazidos por especialistas contratados para investigarem ruas, teatros, casas de show e redes sociais, e não pescarem nos charts dos mais tocados do Spotify, como fazem os curadores dos festivais, abriria uma frente poderosa em seu conceito de musicais e devolveria, remodelada aos novos tempos, o status de plataforma de lançamento de artistas de carreira.

Que contem a história de vida de tais artistas, mas garantam que as canções sejam interpretadas do início ao fim, comoventes e arrebatadoras, inéditas e vitais. E que sejam elas, as canções, as estrelas dos programas. “Tudo o que você fizer na vida que pretenda ser grandioso”, me disse o revolucionário diretor de programas na Globo dos anos 1970, Nilton Travesso, no intervalo de uma entrevista da qual jamais esquecerei, “tenha 90% de dedicação e 10% de loucura.” Ele dizia ser preciso ter fé no dom, como os festivais de Solano Ribeiro tiveram em Elis Regina, Chico Buarque, Jair Rodrigues e Gilberto Gil, ou como os programas de Paulinho Machado de Carvalho depositaram em Roberto, Erasmo e Wanderléa. A música e o intérprete podem ter mais força do que as ideias de um produtor do The Voice
.

Julio Maria
É jornalista e crítico musical. Autor dos livros Nada será como antes, biografia de Elis Regina (editora Master Books), e Ney Matrogrosso: a Biografia (Companhia das Letras)


https://piaui.folha.uol.com.br/musica-televisao-julio-maria/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification
 
 
Abaixo temos local para receber: Comentários, Avaliações, Ponto de Vista, Criticas, Elogios e Sugestões!

Obs:
Pode ser assinado ou anônimo se assim preferir
 

terça-feira, 26 de março de 2024

MPPA move ação civil pública contra Equatorial Energia por danos coletivos aos consumidores em Canaã dos Carajás

 CANAÃ DOS CARAJÁS 20/03/24 13:00

... 

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), por meio dos Promotores de Justiça de Canaã dos Carajás, Alan Pierre Chaves Rocha e Emerson Costa de Oliveira, moveu ação civil pública contra a empresa Equatorial Energia Distribuição e Equatorial Pará. A ação visa reparar danos coletivos sofridos pelos consumidores devido à má prestação do serviço público oferecido.

De acordo com a inicial apresentada, a ação foi motivada por uma representação formulada por um representante do Poder Legislativo Municipal, que trouxe à tona provas robustas da baixa qualidade do serviço prestado, além do evidente descontentamento e sofrimento da população. Durante a investigação conduzida pelo Ministério Público, foram levantados dados técnicos que corroboram as alegações contidas nas representações iniciais.

Para garantir a efetividade da demanda, o Ministério Público solicitou uma tutela antecipada, requerendo o bloqueio judicial de valores no montante de R$ 100.000.000. Este bloqueio visa assegurar que os danos sejam reparados de maneira adequada.

No mérito da ação, o Ministério Público requer a condenação pelos danos morais coletivos e materiais à coletividade. Estes danos serão avaliados e liquidados em cumprimento de sentença, seguindo o trâmite processual normal.


Assessoria de Comunicação

 

https://www2.mppa.mp.br/noticias/mppa-move-acao-civil-publica-contra-equatorial-energia-por-danos-coletivos-aos-consumidores-em-canaa-dos-carajas.htm 

 

Abaixo temos local para receber: Comentários, Avaliações, Ponto de Vista, Criticas, Elogios e Sugestões!

Obs:
Pode ser assinado ou anônimo se assim preferir

 

Grão Pará Bioenergia anuncia R$ 2 bilhões para refinaria de etanol de milho em Redenção


Grupo Mafra e a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool criaram a joint venture, que prevê a geração de 600 empregos diretos e 3 mil indiretos no empreendimento
 
Secretários de Estado, sócios e executivos do Grão Pará Bioenergia com o governador do Pará, Helder Barbalho (ao centro)


Brasília – A Grão Pará Bioenergia, criada a partir de uma joint venture entre o Grupo Mafra e a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA), anunciou a construção de uma refinaria de etanol de milho em Redenção, no sul do Pará. O empreendimento vai investir R$ 2 bilhões até 2029, sendo R$ 600 milhões este ano. A nova agroindústria prevê a geração de 600 empregos diretos e 3 mil indiretos.

O bilionário grupo paulista, com atividades que vão de equipamento médico a pecuária de corte, em sociedade com o grupo mineiro CMAA, do segmento sucroenergético, prevê que a indústria entre em seu primeiro estágio de funcionamento em 18 meses, já com o milho da segunda safra 2024/25 utilizado na produção. O presidente executivo da Grão Pará Bioenergia será Flávio Inoue.

A nova empresa surge, assim, sob o comando de um profissional experiente no agro. Inoue foi CEO da Insolo, empresa comprada pela Granja Faria em 2021, e é sócio-fundador da SeedCorp HO. Seu currículo extenso inclui ainda a posição de diretor sênior no Pátria Investimentos, onde atuou no escritório de investimentos, além de passagens pela McCain Foods e na Syngenta.

Segundo Carlos Mafra Júnior, diretor do Grupo Mafra, a ideia de criar a agroindústria surgiu pela própria operação da empresa na região. Conglomerado familiar, o grupo possui cerca de 150 mil hectares de terras em torno de Redenção.

Mafra afirmou que, desse total, cerca de 75 mil hectares são destinados à preservação e o restante é explorado. São 100 mil cabeças de gado e 20 mil hectares onde são cultivados soja, na primeira safra, e milho na segunda.

Ele destacou que a ideia do negócio surgiu do grupo, que viu na região um movimento crescente de conversão em áreas desgastadas pela pastagem de bois em áreas agricultáveis.

“Nossa ideia é, em cinco anos, converter mais áreas de pecuária em agricultura e aumentar a área de grãos. Com isso, nosso grupo contribui com a parte agrícola, de milho e de DDG – o grão de milho seco obtido da destilação do cereal,” explicou. “Ele é utilizado há mais de cem anos pela indústria norte-americana como alimentação do gado de corte e, mais recentemente, foi introduzido na pecuária brasileira – que é consumido pela pecuária, e a CMAA contribui na parte industrial. Nascemos com um know-how rico sobre o negócio”.

O Grupo Mafra é conhecido por ser o criador da Viveo, empresa de capital aberto especializada na fabricação e distribuição de materiais para o setor de hospitais e saúde humana. A empresa gerou receitas de quase R$ 3 bilhões só no terceiro trimestre do ano passado, o último que teve seus resultados divulgados.

Mafra contou que, ao longo de sua existência, o grupo foi diversificando seus investimentos pelo país. Dentre essas incursões, passou a atuar no agro por volta de 2004, quando comprou fazendas justamente em Redenção.

A decisão de unir sua expertise na agropecuária com quem “entendesse de indústria e etanol” os levou até a CMAA. “Nossa família tem negócios em outras indústrias, mas não na agroindústria,” afirmou.

Reconhecida no setor sucroalcooleiro, a CMAA possui três usinas na região do Triângulo Mineiro. A empresa, produtora de açúcar e etanol, é a terceira maior do estado e foi criada em 2006 pelo grupo JF Citrus. Em 2013, a Indoagri, multinacional da Indonésia que atua no setor agrícola e na indústria de distribuição de alimentos, passou a ter 50% da empresa.

A empresa fechou o ano safra 2022/2023, encerrado em março do ano passado, com um faturamento de R$ 2,1 bilhões. Ao todo, foram processadas 8,5 milhões de toneladas de cana, que deram origem a 658 mil toneladas de açúcar e cerca de 310 milhões de litros de etanol.

A JF Citrus, uma das sócias da empresa, é uma holding que figura entre os quatro maiores produtores de laranja do país, com cerca de 5 milhões de pés de laranja no estado mineiro. A empresa foi criada também em 2006 pela família de José Francisco dos Santos, um empresário local que já atuou no setor de batatas e de cítricos. Ele atualmente é presidente do conselho da CMAA. Seu filho, Francisco José, comanda a holding, que não divulga seus números de faturamento.
DDG e boitel no plano de negócios

A ideia da Grão Pará Bioenergia é fomentar o cultivo de milho na região, aproveitando áreas de pastagens degradadas em agricultura, de acordo com Carlos Mafra Júnior.

“A pauta de sustentabilidade converge totalmente com a estratégia de investimentos dos Grupo Mafra e CMAA. Isso agrega valor na produção em áreas já antropizadas, intensificando a pecuária e agricultura, com zero necessidade de abertura de novas áreas e preservando as reservas de florestas nativas,” destacou.

Ele destacou que o negócio terá três etapas de desenvolvimento. No ano que vem, a empresa vai começar a processar 255 mil toneladas de milho ou sorgo, o que deve gerar 106 milhões de litros de etanol.

Na segunda etapa o montante dobra, indo para 510 mil toneladas de milho processadas, originando 212 milhões de litros de etanol. Na terceira fase de ampliação, ele acredita que a Grão Pará Bioenergia produzirá 430 milhões de litros de etanol provenientes de 1,1 milhão de toneladas de milho.

Segundo estimativas da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), cada tonelada de milho processada numa indústria como essa gera 450 litros de etanol, 212 quilos de DDG, 19 quilos de óleo de milho e ainda 151 quilowatts hora de eletricidade. Para dar energia à indústria, cada tonelada do grão precisa de 464 quilos de biomassa.

Mafra acredita que a cadeia na joint venture seguirá uma proporção parecida à estimada pela Unem e, com a produção na capacidade máxima, a empresa deve gerar cerca de 230 mil toneladas de DDG por ano.

Esse DDG servirá, segundo o executivo, para atender a demanda local, tanto do gado do grupo quanto de empresários locais. A própria Grão Pará Bioenergia também oferecerá um serviço de engorda de bovinos para pecuaristas parceiros, que poderão utilizar a estrutura da unidade para confinar bovinos em regime de “boitel” – estratégia para terminação de bovinos de corte em confinamento que se assemelha a um “hotel”. Neste caso, os hóspedes do boitel são os bovinos que possuem acesso a toda infraestrutura, alimentação, sanidade e manejos que possibilitam a sua engorda –, com o uso de DDG proveniente da produção de etanol de milho.

No começo, todo milho e sorgo virá das fazendas do Grupo Mafra, mas a ideia é de, nos anos seguintes, receber grãos de fazendeiros parceiros próximos à indústria.

A energia da planta virá de biomassa, assim como é feito nas principais usinas do Mato Grosso e será originada de árvores de eucalipto.

Em um comunicado oficial, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), destacou que esse tipo de iniciativa é muito importante para o estado. Segundo ele, esse empreendimento traz benefícios econômicos importantes à região.

“Além de movimentar a economia local, gerará renda e oportunidades de negócios para os mais diversos setores envolvidos, como construção civil, transporte, comércio e serviços, entre outros. A indústria também tem potencial de aumentar a arrecadação de impostos para o estado,” afirmou em nota.

Por Val-André Mutran – de Brasília 
 

Tags:

quarta-feira, 13 de março de 2024

O papel da ciência para enfrentar a desinformação e o negacionismo

Política de CT&I

Última sessão da Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação destacou a importância da divulgação científica e discutiu estratégias para combater fake news

13 de março de 2024


Da esquerda para a direita: Fernando Abrucio, Vanessa Oliveira, Sabine Righetti, Herton Escobar e Vanderlan Bolzani (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Fabrício Marques | Revista Pesquisa FAPESP – A última sessão da Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CECTI), realizada na sexta-feira (08/03), abordou o tema “Ciência, Tecnologia e Sociedade” e reuniu um conjunto de diagnósticos e recomendações para aperfeiçoar a divulgação científica no país e combater a desinformação. Sabine Righetti, pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp) e criadora da Agência Bori, iniciativa que conecta cientistas e jornalistas, apresentou um roteiro de sugestões para melhorar a qualidade da divulgação científica. A primeira delas é a adoção de métricas e indicadores, por instituições científicas e agências de fomento, que levem em conta e valorizem as atividades de divulgação científica desenvolvidas por docentes e pesquisadores a fim de que isso seja considerado na avaliação do desempenho acadêmico deles. Outra é dar mais peso à divulgação científica dentro das universidades, por meio da oferta de disciplinas, cursos de verão e treinamento, com o objetivo de estimular estudantes e pesquisadores a conversar melhor com a sociedade e a transmitir a ela de modo eficiente o conhecimento que geram.

Uma terceira recomendação é a criação de equipes de comunicação robustas nas universidades para produzir conteúdo de divulgação científica – segundo Righetti, a maioria das instituições públicas dispõe de pouca gente para a atividade e, em algumas, não há ninguém. “Essas equipes precisam ser fortalecidas considerando a complexidade da comunicação social hoje em dia”, afirmou. Por fim, ela mencionou a necessidade de fornecer a projetos de divulgação científica recursos compatíveis com suas necessidades e especificidades – a depender da área do conhecimento ou do tipo de mídia adotada, os projetos podem ser muito diferentes – e propôs que esses projetos sejam avaliados por sua capacidade de alcançar interlocutores de fora da academia e de gerar impacto concreto na sociedade.

Herton Escobar, repórter especial do Jornal da USP, falou sobre o fenômeno da desinformação e mostrou como a comunidade científica pode ajudar a enfrentá-lo. Segundo ele, a ciência tem conseguido ampliar a compreensão sobre o fenômeno e a produzir conhecimento que ajude a identificar fake news e auxilie na tomada de decisão para enfrentá-las, mas ainda há flancos que representam grandes desafios. Um grande problema é quando a desinformação é gerada por indivíduos, pesquisadores ou médicos, por exemplo, vinculados a universidades e instituições científicas. “As instituições de pesquisa e as entidades médicas precisam se debruçar sobre o problema e saber como atuar para coibir a propagação de desinformação por parte de seus filiados e docentes. Não é aceitável que o professor de uma universidade pública se apresente como membro daquela instituição e propague desinformação livremente sem ser repreendido de alguma forma. Na pandemia, isso aconteceu bastante”, afirmou.

Outro desafio, segundo Escobar, é coibir a produção e difusão de ciência de má qualidade, em publicações de baixa reputação como as chamadas revistas predatórias, que aceitam publicar qualquer conteúdo em troca de dinheiro, sem fazer uma avaliação rigorosa. Segundo ele, é preciso despoluir a produção científica, reduzindo a difusão de conteúdo de baixa qualidade, para evitar que a sociedade perca a confiança na ciência. “Em 2021, 7 mil artigos científicos foram publicados, em média, por dia no mundo. São milhares de trabalhos publicados todos os dias. Isso abre brechas gigantescas para a publicação de ciência de má qualidade e de ciência fraudulenta e serve de matéria-prima para a desinformação em temas de ciência. É muito fácil para um pesquisador mal-intencionado publicar um paper fraudulento em uma revista que supostamente faz revisão por pares e apresentar aquilo como um dado científico.”

O cientista político Fernando Abrucio, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EASP-FGV), destacou o papel da ciência para fortalecer a democracia e discutiu as origens do negacionismo científico que permeia diversos setores da sociedade. Ele lembrou que, ao longo do século 20, houve um conjunto de cientistas que demonstrou ao mesmo tempo a importância da ciência para o progresso da humanidade, mas também seus limites, a exemplo de Max Weber (1864-1920), Karl Popper (1902-1994) e Thomas Kuhn (1922-1996). “Eles mostraram como a ciência é incremental, um processo de muitos passos, com algumas certezas, muitas dúvidas. Mas em um segundo momento, por volta da década de 1980, pesquisadores vinculados mais à esquerda, em vez de mostrar a importância e os limites da ciência, começaram a dizer que a ciência não explica boa parte das coisas do mundo e, em um mundo pós-moderno, há vários saberes além do científico que são legítimos”, afirmou Abrucio. “Eu não duvido de que existem vários saberes legítimos e a ciência pode dialogar com eles de forma respeitosa. Mas houve uma perda de caminho desse discurso e aí se chega ao momento atual em que a extrema-direita se apropriou da ideia de que existem vários saberes legítimos para deslegitimar a própria ciência”, completou. Segundo ele, a ciência precisa municiar a formação dos cidadãos para fortalecer a democracia e ter um impacto forte na sociedade e no mundo. “O que está em jogo nesse processo não é se a ciência vai se enfraquecer, mas qual será o nosso futuro. O risco é criarmos uma sociedade tenebrosa, medieval.”


Fernando Abrucio, da FGV (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Políticas públicas

A cientista política Vanessa Oliveira, pesquisadora da Universidade Federal do ABC (UFABC) que integra a coordenação do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da FAPESP, abordou o papel da ciência e da inovação em políticas públicas. Ela enfatizou o papel do Estado no investimento em inovação para aprimorar serviços públicos e mostrou como funciona o programa da Fundação, criado em 1996 e reformulado em 2023. “Os projetos do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da FAPESP devem ser orientados pelos problemas da gestão pública. Não é o pesquisador que define o problema no qual deve trabalhar, é a gestão pública que deve dizer qual o problema a ser enfrentado por pesquisas científicas”, explicou. “O cientista e o gestor público atuam juntos na elaboração da proposta e no desenvolvimento da pesquisa. Os projetos podem ter organizações da sociedade civil como parceiras e devem prever a aplicação de seus resultados na gestão pública. Também é essencial que gerem conhecimento científico novo.” Em 2023 foram submetidos ao programa 124 projetos e 70 foram aprovados.

Vanderlan Bolzani, pesquisadora do Instituto de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp), falou sobre os desafios das mulheres na carreira científica. Ela enumerou exemplos de mulheres, no Brasil e no mundo, que se distinguiram no mundo da ciência e apresentou dados sobre a evolução da participação feminina em instituições como a Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) ou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Apesar dos avanços em direção ao equilíbrio de gênero, disse Bolzani, mulheres ainda estão em poucas posições de liderança, como no comando dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), iniciativa do CNPq em parceria com as fundações estaduais de amparo à pesquisa. “Homens e mulheres precisam trabalhar de mãos dadas para mudarmos essa cultura”, afirmou.



Vanderlan Bolzani, pesquisadora do Instituto de Química de Araraquara da Unesp (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Em uma mensagem gravada apresentada no encerramento da conferência, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou a importância da contribuição do Estado de São Paulo, que dispõe de algumas das maiores instituições de ensino superior e pesquisa do país, para as discussões da conferência nacional que vai acontecer em junho. “A conferência nacional tem um papel estratégico como espaço de participação social, de contribuição para as políticas de ciência e tecnologia e para a consolidação da democracia nas organizações do nosso setor.”

O diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, Carlos Américo Pacheco, fez um balanço positivo dos dois dias de conferência. “Fizemos bem o papel que era esperado para a conferência de São Paulo e vamos ter um conjunto de propostas concretas para levar para a conferência nacional. Conseguimos juntar ideias interessantes que podem contribuir para melhorar a política de ciência, tecnologia e inovação [CT&I] do país”, afirmou. “As conferências nacionais de ciência e tecnologia são instrumentos de mobilização, um exercício de construção e de consultas.”

Para o secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Vahan Agopyan, os resultados da conferência poderão ajudar o sistema de CT&I paulista a funcionar de forma mais articulada. “Medidas estruturantes são essenciais para que possamos tornar mais robusto o nosso sistema de CT&I. Temos universidades e instituições de pesquisa que são referências mundiais, mas a estrutura do nosso sistema precisa ser cada vez mais robusta para as instituições progredirem.”

Mais informações sobre a CECTI estão disponíveis em: fapesp.br/cecti. O vídeo com as duas últimas sessões de sexta-feira (08/03) pode ser visto a seguir: 
 

 
https://agencia.fapesp.br/o-papel-da-ciencia-para-enfrentar-a-desinformacao-e-o-negacionismo/51087 
 
 
Abaixo temos local para receber: Comentários, Avaliações, Ponto de Vista, Criticas, Elogios e Sugestões!

Obs:
Pode ser assinado ou anônimo se assim preferir
 
 

segunda-feira, 11 de março de 2024

Encontro Nacional de Política e Meio Ambiente na Amazônia vai reunir pesquisadores de todo o Brasil na UFPA


O Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará (PPGCP/UFPA), em parceria com a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), vai realizar o I Encontro Nacional “Política e Meio Ambiente na Amazônia: desafios políticos e da governança”, de 12 a 15 de março de 2024, na UFPA. O evento terá a presença de pesquisadores de todo o Brasil para debater os desafios enfrentados pela política na Amazônia. Interessadas(os) em participar podem se inscrever até o dia 29 de fevereiro na página do evento.
 
Com a crescente visibilidade da cidade de Belém por causa da Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, que será sediada na capital, no ano de 2025, muitos debates vêm surgindo principalmente em locais que fazem parte da Amazônia Legal. Neste contexto, o evento tem o objetivo de discutir a conexão entre política e meio ambiente, e promover o debate acadêmico acerca do tema meio ambiente e as suas interfaces com outros temas que fazem parte da agenda de pesquisa de cientistas políticos e da agenda política dos governos, no Brasil.

“O I Encontro Nacional objetiva aproximar pesquisadores(as), gestores públicos e representantes da sociedade civil, de modo a possibilitar diálogos sobre os diversos problemas que afetam o meio ambiente amazônico e os desafios que o Estado e a sociedade devem enfrentar para articular ações que promovam o desenvolvimento sustentável na região. Entendemos que a Ciência Política precisa mostrar, ainda mais, a conexão que existe entre a configuração do Estado brasileiro, os conflitos de interesse, as políticas dos governos e os problemas relacionados ao meio ambiente na Amazônia”, explica a professora do PPGCP Eugênia Rosa Cabral.

O evento foi criado tendo em vista a relevância do tema para a região e para o Brasil,o contexto político, social e o fato de a Amazônia ter sido escolhida para sediar a COP 30, sendo uma oportunidade para tomadas de decisão quanto à urgência de enfrentamento dos problemas sociais e ambientais. “Entendemos que a Ciência Política precisa mostrar, ainda mais, a conexão que existe entre a tomada de decisão política e o meio ambiente na Amazônia”, completa a professora.

Para enriquecer o debate, que deve abordar, entre outras temáticas, o agravamento de problemas sociais e ambientais, a pressão política de grupos de interesse por flexibilização das regras ambientais e a mudança na política indigenista, a programação vai contar com conferências, palestras, mesas-redondas e workshops, com a presença de palestrantes de diversas regiões do país. Além dos debates, o evento também contará com o lançamento de coletâneas de artigos produzidos por docentes e egressos do PPGCP, palestrantes e parceiros do Projeto Procad-Amazônia, entre outras produções.

Como participar – Para quem quiser participar do evento, o período de inscrições segue aberto até 29 de fevereiro, via página do evento. As inscrições variam de valor de acordo com a categoria da(o) participante e vão de 10 reais, para estudantes de graduação, a 100 reais, para professoras (es) e pesquisadoras (es) do ensino superior, aos que se inscreverem até o dia 29 de fevereiro. Já a partir do dia 1º de março, haverá uma mudança de valores. Além de estudantes de graduação e professoras (es) e pesquisadoras (es) do ensino superior, podem participar pesquisadoras (es), mestras (es) e doutoras (es), docentes do ensino básico e médio, e discentes de pós-graduação.

Quem desejar pode, ainda, submeter trabalho, até o dia 14 de fevereiro, nas modalidades Pôster-Resumo e/ou Resumo, que aborde as seguintes áreas temáticas: Meio Ambiente e Comportamento Político, Políticas Regulatórias e Conflitos Socioambientais na Amazônia, Meio Ambiente e Políticas Públicas, entre outros.

A expectativa é que esta troca de conhecimento fortaleça as redes de pesquisa e a interação entre Universidade, Estado e Sociedade Civil, para fortalecer o trabalho de políticas em favor da preservação ambiental e da justiça social e ambiental.


TEXTO: Vinicius Gonçalves - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

FOTOS: Alexandre de Moraes - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA 

 

Tags: 

Amazônia, Eventos, Meio ambiente, Políticas Públicas

 

https://ufpa.br/encontro-nacional-de-politica-e-meio-ambiente-na-amazonia-vai-reunir-pesquisadores-de-todo-o-brasil-na-ufpa/ 

 

Abaixo temos local para receber: Comentários, Avaliações, Ponto de Vista, Criticas, Elogios e Sugestões!

Obs:
Pode ser assinado ou anônimo se assim preferir

 

Cobertura jornalística durante o período de chuvas no Brasil

MATÉRIA INTERNACIONAL

por JULIANA AFONSO E LUCAS BOIS - Mar 3, 2024 em JORNALISMO BÁSICO


Foto da capa: Alexandre Brum/Ag. Enquadrar


Quando as nuvens começam a encobrir o céu, nosso primeiro impulso é reorganizar os compromissos do dia para estar em um lugar seguro na hora em que a chuva começar a cair. Essa é uma necessidade ainda maior durante o verão brasileiro, período do ano em que as chuvas são mais fortes e eventos como enchentes, deslizamentos e panes elétricas são mais comuns. A cobertura do período de chuvas é desafiadora. As imprevisibilidades são muitas e os profissionais de comunicação precisam estar preparados.

Persistência e cuidado

O fotógrafo Alexandre Brum já precisou passar a noite em cima de uma passarela nas imediações da Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro (RJ), para se proteger das chuvas. “Quando cheguei no local subi em uma passarela para fazer uma foto do alto. Quando eu desci eu não conseguia passar porque já estava cheio de água. Eu e mais 5 pessoas passamos a noite na passarela. Durante a madrugada as pessoas que estavam nos ônibus foram resgatadas pelos bombeiros com botes, cordas... fiz muitas imagens”, lembra.
 
A escolha de equipamentos adequados, sejam câmeras, celulares ou gravadores, irão garantir o sucesso da cobertura. Com 28 anos de experiência no fotojornalismo, Brum aposta em um número de equipamentos reduzido, a fim de diminuir o peso e facilitar sua movimentação, mas capazes de captar diferentes momentos e estágios de luz.

Até a roupa faz diferença

Roupas confortáveis, botas impermeáveis e algumas ferramentas também podem ajudar na segurança. O fotógrafo do jornal Estado de Minas (MG), Leandro Couri, utiliza roupas militares, como calças com proteção extra e cintos táticos. “A escolha da roupa é muito importante para você conseguir empunhar o seu equipamento. No momento de uma cobertura, você precisa se preocupar com a qualidade da imagem. Se você ficar preocupado em estar confortável você vai fazer o que der e não o extraordinário”, afirma.

Preparação psicológica

Com o crescente debate sobre saúde mental no ambiente de trabalho, existe uma conscientização maior sobre a importância do preparo psicológico dos jornalistas que se dedicam à cobertura de eventos como os climáticos, que podem envolver catástrofes. A exposição a situações de emergência e cenas de grande impacto podem gerar sentimentos de medo, ansiedade e até apatia, causando traumas duradouros.

Couri conta que, quando começou o trabalho com fotojornalismo, queria ver tudo o que pudesse. "Eu achava o maior barato estar no local, ver o que ninguém via e conseguir mostrar aquilo através do meu olhar", diz ele. "Mas ao longo dos anos você vai ficando cheio de cicatrizes. É impossível passar por uma situação dessas sem ser afetado emocionalmente.”

A experiência na área faz com que os jornalistas criem estratégias individuais e coletivas para lidar com acontecimentos marcantes. Brum afirma ter criado uma espécie de autodefesa: “se eu não souber lidar com isso eu não vou conseguir realizar o meu trabalho, e eu preciso realizar o meu trabalho porque ele também é importante, estou ali registrando um fato histórico”.

A cobertura de uma tragédia

Em 2011, chuvas fortes provocaram enchentes e deslizamentos na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Com 918 mortos, 100 desaparecidos e grandes perdas materiais, o caso é considerado a maior catástrofe climática do Brasil. Brum foi um dos jornalistas que viu tudo de perto. “Foi uma tragédia, assim... inimaginável. Se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos eu não acreditaria”, relembra.

Durante a cobertura, ele precisou ficar distante da família. “Não houve uma preparação por parte da empresa em relação a gente. Eu, a repórter e o motorista passamos a zelar um pelo outro. A gente percebia quando alguém precisava de um carinho, uma atenção maior, uma força. Essa união ajudou muito”, conta.
Foto: Alexandre Brum/Ag. Enquadrar

A falta de um acompanhamento psicológico nas agências e redações é um problema. E faz com que esse tipo de suporte fique à escolha dos jornalistas. Ou seja, é o próprio profissional que tem que se preocupar em buscar ajuda para cuidar da saúde mental.
 
Racismo ambiental

Diante de tragédias cada vez mais intensas, e da possibilidade de que elas ocorram com uma frequência cada vez maior, é fundamental que o jornalismo reflita sobre a sua responsabilidade ética. Uma delas é assegurar a precisão das informações divulgadas.

Para a jornalista e pesquisadora Mariana Belmont, a abordagem das mudanças climáticas ainda continua limitada à repercussão de um acontecimento factual, como enchentes, deslizamentos de terra, perdas materiais e mortes decorrentes. É necessário continuar contando o pós-desastre e trazer à tona a discussão do racismo ambiental.

Ela explica como evitar o racismo ambiental: “Quem são as pessoas mais atingidas em desastres por falta de políticas de prevenção? A crise climática é também humanitária e tem impacto direto na vida das populações negras, quilombolas e dos povos indígenas", diz Belmont. "A grande imprensa tem o potencial de alertar sobre a gravidade dos riscos climáticos, cobrar e denunciar a falta de planos de adaptação e mitigação”.

Dar voz às reais vítimas

Belmont realizou a cobertura dos deslizamentos que ocorreram no litoral norte do estado de São Paulo, em março de 2023. Naquela tragédia, 65 pessoas morreram e mais de 4 mil ficaram desabrigadas, além das perdas e danos materiais em muitas vilas e cidades ao longo da costa atlântica. Ela conta que o caso só ganhou alcance na mídia nacional porque muitas casas de veraneio pertenciam a pessoas de classe média alta. “Depois que a vida ‘voltou ao normal’ para os ricos, os pobres foram esquecidos e a violação de direitos seguem ocorrendo no território”, afirma.

Para Belmont, é preciso ampliar o espaço de cobertura sobre as mudanças climáticas. “O jornalismo de quebrada, de periferia, comunitário e popular faz com alta qualidade a cobertura. Eles estão perto das pessoas, fazem parte da comunidade. A grande imprensa precisa ouvir mais as pessoas, dar voz.”

Outra responsabilidade do jornalismo é levar essa informação ao público com sensibilidade para que a cobertura da tragédia não se torne uma exploração indevida das populações marginalizadas. Para isso, a pesquisadora sugere uma abordagem mais ampla que inclua um recorte de raça e território. “Entrevistem lideranças negras de organizações e movimentos que lutam pela vida e pelo debate socioambiental no Brasil. Entrevistem especialistas e técnicos negros, indígenas e quilombolas. Parem de repetir copia e cola de entrevista, saiam das redações”, adverte Belmont.







FREELANCERS IJNET
Juliana Afonso e Lucas Bois



 
 
 
https://ijnet.org/pt-br/story/cobertura-jornal%C3%ADstica-durante-o-per%C3%ADodo-de-chuvas-no-brasil
 
 
Abaixo temos local para receber: Comentários, Avaliações, Ponto de Vista, Criticas, Elogios e Sugestões!

Obs:
Pode ser assinado ou anônimo se assim preferir

sexta-feira, 1 de março de 2024

TSE proíbe deepfake nas eleições e obriga identificação do uso de IA

Imagem TSE

“Nessas eleições, lamentavelmente, o plenário terá que combater as fake news e as milícias digitais anabolizadas pela inteligência artificial”, declarou, na terça-feira (27), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, em sessão que aprovou por unanimidade a resolução que proíbe, entre outras coisas, o uso de deepfake nas eleições de 2024. O uso de inteligência artificial, repositórios de anúncios e novas obrigações para as plataformas digitais estão entre os temas abordados na normativa que trata de propaganda eleitoral.

desinformante

As regras que vão reger as eleições deste ano incluem a obrigação do uso de rótulos para indicar conteúdos sintéticos, gerados por inteligência artificial, além de restringir o uso de chatbots e avatares criados por IA para a comunicação de campanha: os materiais podem ser usados desde que não tente simular uma pessoa real, inclusive o próprio candidato. Além disso, foi aprovada a vedação absoluta das deepfakes.

Para o presidente do TSE, essa talvez seja a resolução mais importante entre todas as aprovadas. “Nós já vimos o que ocorreu nas eleições da Argentina, um vídeo transformando uma fala em outro tipo de assunto, inclusive com a perfeição dos movimentos labiais, o que pode acarretar um problema gigantesco, pode até mudar o resultado das eleições, por isso é importante caracterizar isso como abuso de utilização dos meios de comunicação”, comentou Moraes ao elogiar o trabalho realizado por Cármen Lúcia.

O TSE também abordou na normativa algumas obrigações para as plataformas digitais em conformidade com o conceito de dever de cuidado. Na sessão, a ministra Cármen Lúcia disse que o Tribunal não “está inventando”, mas partindo da função social da propriedade que consta na Constituição Federal para elencar novos deveres. Com isso, as plataformas devem adotar medidas para impedir a circulação de desinformação sobre o processo eleitoral, além de veicular, de forma impulsionada e sem custos, conteúdo informativo que desminta a informação falsa.

O dispositivo que trata da transparência dos anúncios, trazida na primeira minuta que recebeu diversas sugestões, foi aprimorado e ampliado para abarcar outros tópicos, como o perfilamento da audiência. Agora, a regra prevê que as plataformas tenham um “repositório de anúncios para acompanhamento, em tempo real, do conteúdo, dos valores, dos responsáveis pelo pagamento e das características dos grupos populacionais que compõem a audiência da publicidade contratada”, algo bem similar a uma biblioteca de anúncios.

O diretor jurídico do Sleeping Giants Brasil, Humberto Ribeiro, avalia que, como o texto na íntegra ainda não foi publicado, não está claro se essa obrigação é apenas na pré-campanha, como consta na minuta, ou foi estendida para a campanha também, que é o que sugeriram entidades da sociedade civil. Ribeiro também analisa que é um avanço significativo, visto que esse mecanismo de transparência já está em vigência em outros países. “São mecanismos que permitem que a sociedade civil, a academia, jornalistas e os próprios cidadãos compreendam como os recursos publicitários do fundo eleitoral estão sendo empenhados para realização de campanha eleitoral e política”, disse.

O texto prevê ainda a responsabilização solidária dos provedores de aplicação, civil e administrativamente, que não removerem imediatamente conteúdos e contas durante o processo eleitoral em casos de risco, como atos antidemocráticos tipificados no Código Penal e comportamento ou discurso de ódio.

A resolução traz outras medidas para coibir a desinformação contra a integridade do processo eleitoral. O TSE estabelece a orientação para juízes e juízas eleitorais exercerem o papel de polícia para a eficácia da remoção de conteúdos ilícitos, além de pontuar a criação de um repositório de decisões sobre o tema para consulta pública. Outro ponto em relação à remoção de conteúdos é que as plataformas precisam guardar as mídias e os dados da publicação para comprovar o cumprimento da decisão judicial.

Para Moraes, o TSE aprovou “uma das normatizações mais modernas do mundo em relação ao combate à desinformação, combate à fake news e ao combate do uso ilícito da inteligência artificial”. De acordo com o presidente da Corte, isso permite que o TSE, os TREs e os juízes “tenham instrumentos eficazes, modernos para combater o desvirtuamento nas propagandas eleitorais, nos discursos de ódio, fascistas, antidemocráticos e na utilização de IA para colocar na fala de uma pessoal algo que ela não disse”.

A resolução passa a considerar as lives eleitorais atos de campanha e, portanto, não podem ser transmitidas ou transmitidas por canais de rádio e televisão. Sugestões que surgiram da classe artística também foram acrescentadas ao texto, como os dispositivos para garantir a proteção à liberdade de expressão de artistas e influenciadores, além do próprio direito autoral.

As resoluções aprovadas pelo Tribunal foram apresentadas em forma de minutas no início de janeiro e receberam quase mil contribuições da sociedade civil, empresas e cidadãos. A que versa sobre propaganda eleitoral teve 388 contribuições e mais de 30 participações em audiência pública que tratou do tema. A ministra Cármen Lúcia, vice-presidente do TSE e relatora das resoluções, destacou que 58 sugestões apresentadas foram acatadas e 96 foram acolhidas parcialmente.

 

https://desinformante.com.br/tse-proibe-deepfake/

 

Abaixo temos local para receber: Comentários, Avaliações, Ponto de Vista, Criticas, Elogios e Sugestões!

Obs:
Pode ser assinado ou anônimo se assim preferir